11 de set. de 2022

Debates, oficinas, performances são parte das Ações Formativas do MIRADA


São mais de 75 artistas e pesquisadores em atividades ao longo de 10 dias do festival; na conferência de abertura, a filósofa Djamila Ribeiro aborda o tema decolonialidade e pós-colonialismo

 


Christina Elias em cena de Sem Fim, performance da exposição TheA²trumcoRpUsmunDi. Foto: Morteza Nazeri/divulgação


Nesta sexta edição, a atriz, dramaturga e tradutora Giovana Soar; o ator e dramaturgo Jhonny Salaberg e o ator e dramaturgo Ivam Cabral foram convidados a articular, junto à equipe do Sesc, as ações desse segmento

 

A sexta edição do MIRADA – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas, realizada pelo Sesc São Paulo, acontece de 9 a 18 de setembro, com uma programação de 36 espetáculos de múltiplas linguagens em teatro, dança, performance e teatro de rua, de 13 países. Como em outras edições, fomentar o pensamento crítico e autocrítico com suas atividades formativas sempre foi um ponto fundamental do Festival e, ao longo dos dez dias, estão previstas rodas de conversa, intercâmbios, oficinas, performances, exposição, lançamentos de livros e encontros abertos.

Em 2022, três criadores foram convidados a articular, junto à equipe do Sesc, as atividades formativas, reflexivas e criativas desse segmento: a atriz, dramaturga e tradutora Giovana Soar (companhia brasileira de teatro, PR); o ator e dramaturgo  Jhonny Salaberg (O Bonde, SP) e o ator e dramaturgo Ivam Cabral (Cia. de Teatro Os Satyros, SP). Mais de 75 artistas e pesquisadores do campo das artes cênicas e de áreas transversais participam das ações e dividem saberes, discernimentos, dúvidas e questionamentos apontados pela programação do festival, mas também miram um contexto mais amplo.

Dois eventos marcam o início das atividades reflexivas e formativas e sintetizam o caráter crítico e político do Festival, em diálogo com as necessidades de nosso momento histórico. Na Conferência de Abertura, a filósofa Djamila Ribeiro lança seu olhar tendo como ponto central o sentido de decolonialidade e pós-colonialismo, e um grande encontro em que os convidados Lindolfo Amaral, do espetáculo “Mar de Fitas Nau de Ilusão”; Davi Guimarães, de “CÁRCERE ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”; Nixon García Sabando, de “QUIMERA”; Jorge Baldeón, de “Discurso de Promoción”; Geni Nuñez e Harry de Castro debatem os caminhos da decolonialidade na arte, com mediação da dramaturga Dione Carlos.

Durante o Festival, a série Conversas: Intersecções entre as Obras reflete sobre as influências nos procedimentos em processos criativos, em debates dinâmicos e interativos com o público. São cinco rodas com diferentes temas: “Teatro das Bordas: Enfrentando a Metrópole”; “Como Estar Juntos?”; “Ações Democráticas Dentro e Fora de Cena”; “Seu Corpo Como Espaço de Investigação”; “A Recriação/Reinvenção de Contextos Sociais na Arte”.

Nas oficinas, artistas e pesquisadores de diferentes vertentes apresentam olhares sobre seus trabalhos. Práticas de transbordamento é coordenada pelas coreógrafas Marcela Levi, do Brasil, e Lucía Russo, da Argentina; Desmontagem “Hamlet é uma atividade dirigida a educadores e educadoras, comandada pela diretora peruana Chela De Ferrari sobre sua versão “livre” da peça de Shakespeare, com oito atores e atrizes com Síndrome de Down em cena; em Por uma crítica norteadora: suleando pensamentos, Guilherme Diniz propõe aos participantes o exercício da crítica teatro como um ato político; Escavação: a  hystórya por bayxo das unhas, com Juão Nyn, questiona o teatro como conhecemos e apresenta manifestações teatrais já existentes em território brasileiro antes da chegada dos portugueses.

As ações em ambiente digital também são parte das atividades formativas e expandem seu alcance a novos públicos. As criadoras de conteúdo Érica Ribeiro (@eraribeiro) e Livia La Gatto (@livialagatto) fazem a cobertura do festival e interagem com o público através das redes sociais do Sesc Santos com o “Mirada tá ON”. Já a Sala de Dramaturgia Virtual, uma plataforma on-line, coloca dramaturgos de diferentes lugares do Brasil para compartilhar um processo coletivo de escrita sob olhar do público. Participam da sala: Aldri Anunciação, Dione Carlos, Lucas Moura, Ave Terrena, Victor Nóvoa, Leonarda Glück, Paulo Henrique Sant’ Anna e Daniel Veiga.

Um dos mais importantes grupos de teatro brasileiro vai compartilhar com o público a fase atual do seu próximo trabalho. Rodeio, do Teatro da Vertigem, estreia em breve e na obra, se propõe a investigar o ambiente rural brasileiro, especialmente as regiões Sudeste e Centro-Oeste, estendendo-se para o Norte, no estado de Rondônia. Após a abertura, haverá um bate-papo com a equipe e mediação de Amilton de Azevedo.

Durante os dias de Festival, a área de convivência do Sesc Santos transforma-se no Ponto de Encontro, espaço extensivo de fruição artística para o público após as sessões dos espetáculos. Shows musicais, discotecagens e intervenções artísticas fazem parte da agenda pensada para um ambiente que celebra a diversidade e convida à troca de ideias.

Instalação - Ainda como programação do MIRADA 2022, na área de convivência do Sesc Santos haverá uma instalação concebida por Ricardo Muniz Fernandes, Christine Greiner, Ana Kiffer, Isabel Teixeira, Paulo Henrique Pompermeier e Andrea Caruso Saturnino. O título da experiência é TheA²trumcoRpUsmunDi e contém o anagrama de Antonin Artaud (ator, escritor e encenador francês).

Desenhos, cartazes, rabiscos, textos ensaísticos, peças, poemas, filmes, gestos e glossolalias – as falas de línguas desconhecidas – emaranham desmontes em curso nas metades ocidental ou oriental da Terra e sob várias perspectivas de desconstrução do corpo, do teatro e do mundo.

O público percorre um labirinto de visualidades, sensações e sonoridades alusivas a pensamentos, paradigmas e certezas em ruínas. A experiência incentiva a pensar ou repensar sua ação no mundo.

Cadernos de Reflexões - O Sesc promove o lançamento do Cadernos de Reflexões sobre as Artes Cênicas na rede Ibero-americana, uma publicação em formato de revista com ensaios e artigos sobre a teatralidade contemporânea, sua extensão pela América Latina, Portugal e Espanha, e suas expressões singulares em cada país e suas difusões e circulações. Os textos reflexivos que compõem a publicação desta primeira edição foram escritos por nomes expressivos do campo das artes e da cultura da Ibero-América: Alberto Ligaluppi (Argentina), Conchi León (México), Miguel Rubio Zapata (Peru), Octavio Arbeláez Tobón (Colômbia), Pamela Lopes Rodrigues (Chile), Patrícia Portela (Portugal) e do Brasil: Alexandre Dal Farra, Fernando Yamamoto, Marcio Abreu e Paula Autran. Acesse pelo QRCode ou pelo aplicativo Sesc SP.

Confira a programação completa abaixo:

CONFERÊNCIA DE ABERTURA
Como evidenciado na programação artística e pedagógica, esta edição do MIRADA tem um caráter crítico e político, necessidade que o momento histórico nos impõe. Assim, a conferência de abertura das atividades formativas e reflexivas será realizada por um dos mais profícuos e ativos nomes das ciências humanas no mundo contemporâneo, de modo que os múltiplos temas abordados, a partir da decolonialidade, possam ser pensados de forma ampla e profunda. Com Djamila Ribeiro.

RODA DE CONVERSA: DECOLONIALIDADE
Os caminhos da decolonialidade na arte constituem o mote desse debate entre Lindolfo Amaral, de “Mar de Fitas Nau de Ilusão”; Davi Guimarães, de “CÁRCERE ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”; Nixon García Sabando, de “QUIMERA”; Jorge Baldeón, de “Discurso de Promoción”; Geni Nuñez e Harry de Castro. Mediação: Dione Carlos.

AÇÕES DIGITAIS
As criadoras de conteúdo Érica Ribeiro (@eraribeiro) e Livia La Gatto (@livialagatto) fazem a cobertura integral da programação do MIRADA e interagem com o público através das redes sociais do Sesc Santos. A audiência poderá acompanhar entrevistas com artistas, bastidores, preparações, espetáculos, shows, conversas e vivências. 

SALA DE DRAMATURGIA VIRTUAL
Ação coletiva realizada por meio de plataforma virtual em que escritores de diferentes regiões do Brasil interseccionam, simultaneamente, suas pesquisas, procedimentos e dispositivos sob o olhar presente e atento do público. As criações podem ser vistas de forma online, via link disponibilizado, ou através de projeções em espaços do Festival. Com: Ave Terrena, Daniel Veiga, Dione Carlos, Leonarda Glück, Lucas Moura, Paulo Henrique Sant’anna e Victor Nóvoa. Mediação: Aldri Anunciação

CONVERSAS: INTERSECÇÕES ENTRE AS OBRAS
Esta série de encontros reflete sobre razões ou mesmo intuições que influenciam a adoção de procedimentos em processos criativos, sejam de natureza individual ou coletiva. A proposta é que artistas possam expandir as ideias que se destacam em suas obras ou em seus dispositivos poéticos. Trata-se, mais do que uma palestra expositiva, de um debate dinâmico e interativo com o público.

 

Teatro das Bordas: Enfrentando a Metrópole

Representantes dos grupos Imbuaça, de Sergipe, Companhia de Teatro Heliópolis, de São Paulo, e Coletivo 302, de Cubatão, relatam experiências e desafios em trabalhar fora dos eixos economicamente privilegiados da produção cultural, seja na região sudeste ou nas periferias dos grandes centros urbanos. A descentralização de equipamentos e de ações se faz urgente sob convicção pela arte, força e resiliência na atuação local. Com Manoel Cerqueira, Miguel Rocha e Lipari. mediação: Júnior Brassalotti.

 

Como Estar Juntos?

Após a pandemia de Covid-19, o mundo repensa as formas de estarmos juntos e as possibilidades de parcerias (virtuais ou presenciais). Manter ajuntamentos e coletivos de artistas ao longo do tempo não tem sido tarefa fácil. Como é possível pensar em parcerias? Como superar as distâncias e a falta de incentivos? Como se preservar no tempo? Com Alexis Moreno, Gonçalo Amorim, Gustavo Tarrío e Orlando Arocha. Mediação: Eliana Monteiro.

 

Ações Democráticas Dentro e Fora de Cena

O sistema de governo está no centro das discussões. Os ataques frequentes às instituições de poder e a ascensão da extrema direita no mundo têm colocado as práticas democráticas em xeque. Como reforçar as ações sociopolíticas no exercício da arte, dentro e fora de cena? Como ser democrático diante de tanta volatilidade e inseguranças? Com Lázaro Gabino Rodríguez, André Amálio e José Fernando Peixoto de Azevedo. Mediação: Francis Wilker.

 

Seu Corpo Como Espaço de Investigação

As inspirações autobiográficas têm sido uma constante nas criações contemporâneas. Isso inclui, no caso dos artistas, principalmente, a exposição de seus corpos, não apenas como ferramenta de trabalho, mas também como ponto de partida para narrativas. Como o corpo, em suas dimensões social e política, atravessa a cena e fundamenta a arte? Há limites para essa exposição? Há limites entre corpo e cena? Com Marina Otero, Marcelo Várzea e José Ramón Hernández. Mediação: Helena Vieira.

 

A Recriação/Reinvenção de Contextos Sociais na Arte

Na contemporaneidade, é inegável que práticas artísticas têm influenciado os contextos sociais, e vice-versa. Algumas experiências-limite podem, inclusive, interferir em estruturas sedimentadas de setores da sociedade. Como os contextos sociais se transformam em elementos artísticos e como ultrapassar o sentido primeiro de denúncia? Como reinventar as práticas sociais e transmutá-las em arte? Com Martha Kiss Perrone, Rogério Tarifa e Tiago Cadete. mediação: Antonio Araujo.

OFICINAS

Práticas de Transbordamento

Colocar em jogo noções aparentemente não compatíveis, como excesso e prática, rigor e explosão, é o que propõe essa oficina coordenada pelas coreógrafas Marcela Levi e Lucía Russo, do espetáculo “c h ãO”, artistas defensoras da forja diária que articula corporeidades e dramaturgias que enaltecem contradições e ambiguidades. Para isso, a dupla aposta no que é vivo, ou seja, fragmentário e incompleto: fragmentar o corpo para articulá-lo, para liberar a sua potência de relação.

 

Desmontagem “Hamlet”

Chela De Ferrari revela o processo criativo de sua versão “livre” da peça de Shakespeare, escrita e dirigida por ela com base nas ideias, interesses e exigências dos oito atores e atrizes com síndrome de Down que protagonizam a produção. Participantes têm acesso à intimidade da sala de ensaios para aprender sobre as descobertas e os desafios de mais de um ano de trabalho. Dá a ver como são tecidas as conexões entre personagens, monólogos e cenas da tragédia e a vida de atores e atrizes desta montagem. Atividade dirigida a educadores e educadoras.

 

Por uma Crítica Norteadora: Suleando Pensamentos

Exercitar a crítica teatral como um ato político, reflexivo e poético disposto a confrontar olhares eurocêntricos/coloniais presentes no campo cultural é o propósito dessa vivência teórico-prática com Guilherme Diniz em que participantes irão exercitar a escrita a partir de espetáculos pré-definidos. A oficina estimula indagações sobre como o texto reflexivo pode tecer narrativas, memórias e perspectivas que questionem o mundo, a cena e suas relações a partir de outros saberes, referenciais e territórios criativos. 
 

Escavação: A HYstórYa por BaYxo das Unhas

O questionamento acerca do teatro como conhecemos, que começou no Brasil com a chegada das caravelas e do cristianismo, e quais manifestações já existentes em seu território continham a tal da teatralidade, é o ponto de partida dessa oficina coordenada por Juão Nyn. Na experiência, participantes terão contato com o Toré, os Toantes, os Mbora’is e diversas outras manifestações feitas em roda, que mesclam canto, rito e representação, a fim de conhecer um pouco como pessoas indígenas utilizam o teatro como ferramenta para manutenção das próprias culturas.

CONVERSAS PÓS-ESPETÁCULOS
A formação de espectadores passa pelo aprimoramento do olhar crítico. Em parte das apresentações, o público é convidado a permanecer e participar de bate-papo com a direção, o elenco ou a equipe de criação. Uma oportunidade para expor impressões e depoimentos sobre sua experiência presencial. Com mediação de Amilton de Azevedo, Daniele Avila Small, Guilherme Diniz e Soraya Martins.

LIVROS E PUBLICAÇÕES
 

Feira de Livros Edições Sesc

Dança, teatro, música, mas não só isso. Uma infinidade de assuntos no campo da literatura para quem curte folhear um livro ou mesmo uma diversidade de estilos musicais para amantes do bom e velho CD. Essa é a proposta da atividade que aporta em sua 3ª edição no Sesc Santos. Quem visitar a unidade poderá adquirir livros das Edições Sesc e também CDs e DVDs do Selo Sesc com descontos.
 

Leitura de Aimé Césaire, textos escolhidos: “A tragédia do rei Christophe, discurso sobre colonialismo, discurso sobre negritude”  O texto, presente no livro póstumo recém-publicado na Coleção Encruzilhada, da Editora Cobogó, discorre sobre a realidade histórica do Haiti no início do século XIX e analisa as noções de dominação colonial, nação pós-colonial, liderança e identidade através da situação daquele país ao cabo da colonização francesa. Após a leitura, artistas participantes, a antropóloga Jaqueline Lima Santos e o diretor da coleção, José Fernando Peixoto de Azevedo, dialogam a partir da obra de Aimé Césaire. Mediação: José Fernando Peixoto de Azevedo.

 

Teatro Contemporâneo: Tendências e Interações

As tendências da produção teatral contemporânea, com ênfase nas montagens e no “momento-espaço” do encontro com o público, norteiam esse bate-papo seguido de sessão de autógrafos com Andrea Caruso Saturnino, autora do livro “Ligeiro Deslocamento do Real: Experiência, Dispositivo e Utopia na Cena Contemporânea”, e Shirlei Torres Perez, autora de “Crise e Pensamento Crítico: O Teatro em Comunicação com o Público”. Mediação: Valmir Santos.

 

Lançamento do livro “Práticas Artísticas, Participação e Política”, de Hugo Cruz

Num momento de particular fragilidade para as democracias e para a vivência coletiva, a obra procura cruzar os contributos da arte, da participação e da política. Com base em estudos, inéditos pela sua dimensão e profundidade, desenvolvidos pelo autor em Portugal e Brasil, são discutidos os elementos fundamentais dessas práticas, bem como as potencialidades e fragilidades que os processos criativos encerram na sua ligação à participação cívica e política. Mediação: Ingrid Dormien Koudela. Com Hugo Cruz, Jaqueline Andrade e Járdila Baptista.

 

Biografias de Teatro: Ruth Escobar e Sérgio Mamberti

A partir das obras “Ruth Escobar: Metade é Verdade”, de Álvaro Machado, e “Sérgio Mamberti: Senhor do Meu Tempo”, coautoria de Dirceu Alves Jr., o encontro seguido de sessão de autógrafos apresenta a trajetória da biografada e do biografado, reconhecidos tanto pela intensa atuação nas artes, produção e gestão cultural, quanto por serem cientes e ciosos de seu papel político em diferentes momentos da vida nacional. Mediação: Tommy Della Pietra.

 

ABERTURA DE PROCESSO

RODEIO| Teatro da Vertigem
Neste trabalho em elaboração, o grupo de São Paulo se propõe a investigar o ambiente rural brasileiro, especialmente as regiões sudeste e centro-oeste, estendendo-se para o norte, no estado de Rondônia. Mediação de conversa com público e programadores: Amilton de Azevedo.

PERFORMANCES

A Babá Quer Passear | Ana Flávia Cavalcanti

A ação tem o intuito de provocar a discussão sobre a invisibilidade das trabalhadoras domésticas no Brasil. Afinal a cena se repete diariamente: uma mulher negra, vestida de branco, empurra um carrinho com uma criança tão branca quanto seu uniforme. No trabalho, o carrinho é estacionado em um determinado ponto da cidade. O convite aos transeuntes é feito através de um balão branco pregado ao carrinho com os dizeres: “A Babá Quer Passear”.

 

Serviçal | Ana Flávia Cavalcanti

Solo-debate que se propõe a discutir a realidade dos trabalhadores negros no Brasil. A partir do híbrido de espetáculo teatral, debate e performance, mescla depoimentos que a artista colheu durante passeios com a performance “A Babá Quer Passear”, bem como de suas experiências como empregada doméstica.

 

Bola de Fogo | Fábio Osório Monteiro

A ação inaugura um novo momento na carreira do artista, que passa a atuar também como baiana de acarajé. A obra busca relacionar o fato de Osório ser atuante na cena contemporânea, tendo trabalhado com importantes criadoras e criadores nacionais e internacionais, e sua necessidade de subsistência diante da instabilidade dos tempos atuais. Quebrar, inchar, transformar, bater, fritar e comer.   

RESIDÊNCIA

Tretas Mundos | Coletiva Ocupação (BRA) e Festival Mexe (POR) 

Durante cinco dias, estudantes portugueses articulados pelo Festival MEXE participam do cotidiano de criação da coletivA ocupação em torno de práticas de corpo, dramaturgia, direção de arte e música. A ideia é que sejam provocadas e provocados a contracenar com ações diárias de uma companhia  brasileira, trazendo outros olhares e vivências. A residência reafirma o vínculo dos grupos que se conheceram no evento luso em 2019. O reencontro se dá na semana anterior à estreia de “Erupção - O Levante Ainda Não Terminou” no MIRADA, novo espetáculo da coletivA.
 

INSTALAÇÃO TheA²trumcoRpusmUnDi

Curadoria e concepção Ricardo Muniz Fernandes, Christine Greiner e Ana Kiffer
Colaboração Isabel Teixeira, Paulo Henrique Pompermeier e Andrea Caruso Saturnino
Essa é uma experiência que incentiva cada sujeito a pensar ou repensar sua ação no mundo.

À maneira de uma instalação, ou melhor, um campo de forças, o público percorre um labirinto de visualidades, sensações e sonoridades alusivas a pensamentos, paradigmas e certezas em ruínas.

Desenhos, cartazes, rabiscos, textos ensaísticos, peças, poemas, filmes, gestos e glossolalias – as falas de línguas desconhecidas – emaranham desmontes em curso nas metades ocidental ou oriental da Terra e sob várias perspectivas de desconstrução do corpo, do teatro e do mundo.

O estranhamento, sempre propulsor na arte, começa pela grafia da ação: TheA²trumcoRpusmUnDi, título que contém o anagrama de Antonin Artaud (1896-1948). O ator, escritor e encenador francês conflui neste projeto, sobretudo, pela vivência junto ao povo indígena Tarahumaras, no México, em 1936, quando conheceu ritualidades que alteraram a percepção de si sobre sua obra, e pela experiência de vida toda inclinada à desconstrução do saber do homem europeu.

Nesse campo de forças com cerca de 100 m² cabem corrosões de sistemas político e econômico. Falências e potências. Luz e sombras. Já o seu epicentro é o vazio, vórtice de invenção e reconstrução, a revezar manifestações corporais evocativas do quão arcaica, proativa e precária são as existências.

A equipe de artistas ambiciona, assim, provocar por meio dessa “flecha em voo para muitas direções”.

 

PROGRAMAÇÃO

 

Glossolilando

Quatro performers enunciam línguas desconhecidas pelo espaço, cochichando no ouvido das pessoas glossolalias de Artaud e pequenos textos dissonantes. Fazem escapar o sentido, vacilar o pensamento, vibrar o corpo. A poesia sussurrada no colapso da linguagem. Um convite para experimentar o impensado. Delírios, segredos, para além da linguagem estabelecida. A coordenação é da diretora Cristiane Paoli Quito.

 

Notas Fervorosas

Textos e mais textos de Artaud e seus cúmplices escritos desordenados em papel solto no chão, no vértice do espaço. Lançamento do livro “Nota Fervorosa - Textos e Desenhos de A. Artaud” (n-1 edições, 2022), seleção e organização de Ana Kiffer. Com o público – fora e dentro –, a autora fala fervorosamente alguns textos de Artaud: como pregos gravados sobre o papel/tecido e estandarte sobre o vórtice. A língua, física e sentida + o som, escrita-corpo, força ao mesmo tempo ancestral e atual.

 

Cavalo Balilab

Dezenas de cavalos-marinhos e outros personagens do bumba meu boi, dança dramática do ciclo natalino em diferentes regiões do Brasil + diálogo com máscaras de Topeng de Bal. Brincadeiras e misturas espalhadas pelo espaço. Performances brotando da Cia. Mundu Rodá +  atriz e diretora Fabianna de Mello e Souza e Felipe Pedrine, da Cia. dos Bondrés (RJ). Cosmogonias em diálogo, jogo de forças da terra que ignoram fronteiras.

 

Sem Fim

Uma escrita sem fim por Christina Elias no vértice do espaço. A artista emana um furacão de seu pensamento e corpo + outros pensamentos e corpos desenhando outros sentidos. Um corpo + a linguagem tangenciando o ilimitado, o que não tem barreiras = o sem fim. Desfazimentos e invenção de outros corpos e línguas.

 

Devorar Conchas e Clérigos

Na acepção antropofágica, devorar o filme com roteiro de Artaud, "A Concha e o Clérigo" (1928), da cineasta francesa Germaine Dulac (1882-1942), uma mixagem surreal entre imagens e corpos, as sombras e a luz. Corpos e figurinos sobrepostos, inefáveis, sendo costurados e desfeitos. Oscilação entre tempos, mídias; entre o real e o imaginário, pela Companhia Antropofágica (SP).

 

Devires Vegetais

Devir vegetal, outros corpos se erguendo no vórtice do espaço, montagem e desmontagem do ser. Vir a ser outro aquém do humano, além do sabido, se espalhar pelo lugar em brotação.  Um dispositivo com a coordenação de Marina Guzzo, artista e pesquisadora das artes do corpo.

 

Mancias e Momices

Dois atores, da Cia. Os Crespos (SP), Sidney Santiago e Lucelia Sergio, clamam toda tentação, todo desejo, toda inibição dos textos + glossolalias do livro “Artaud o Momo” (1946), do próprio teórico e dramaturgo francês. Momices. Lançamento do livro homônimo (n-1 edições, 2022) sob tradução e prefácio da professora e pesquisadora Sílvia Fernandes (USP), entre o espaço formativo e o labirinto da exposição. Nesse dia, performers do glossolilando registram no núcleo/vértice do espaço sonhos, desejos, imaginações de quem ali estiver e quiser misturar-se a esta pulsação = “thea²trumcorpusmundi”

 

Pensamento e Corpo em Deriva

A professora e pesquisadora Christine Greiner (PUC-SP) fala sobre “Artaud - Pensamento e Corpo”, livro do filósofo japonês Kuniichi Uno que ajudou a traduzir (n-1 edições, 2022). A partir de uma curta palestra no espaço formativo, ela conduz o público a uma deriva pelo canteiro de obras “theatrumcorpusmundi”. No vórtice do espaço, sobre estandarte, ali estendido, a performer, pintora e artista visual Thany Sanches desenha em plena deriva corpos e pensamentos. Registros, amplificação.

 

Glossolimagens

Durante todos os dias, os acontecimentos cênicos serão gravados em vídeo pela artista audiovisual Luiza Fonseca. E na última data do Festival, no domingo, dia fim do sem fim, os respectivos rastros/restos/registros do fluxo da programação se emaranham ao lugar|labirinto. Glossolimagens de todos os tipos reverberando.
 

PONTO DE ENCONTRO 
A área de convivência do Sesc Santos transforma-se, durante o período do festival, em espaço extensivo de fruição artística para o público nas noites do MIRADA, após as sessões dos espetáculos. Shows musicais, discotecagens e intervenções artísticas fazem parte da agenda pensada para um ambiente que celebra a diversidade e convida à troca de ideias.
Dias 09, 10, 12, 13, 14, 15, 16 e 17 de setembro | Gratuito | 18 anos | a partir das 22h30
Retirada de ingressos 1 hora antes, sujeito à lotação.

 

DJ Flavia Durante | BRASIL

Apaixonada pela sonoridade de países vizinhos e ibéricos, a artista apresenta um set que mistura pop, reggaeton, cumbia e flamenco com hits e obscuridades da música brasileira, privilegiando as vozes femininas. Também navega pelo indie, rock, pop e soul. DJ, empresária e comunicadora que discoteca desde 2001, ela criou a POPSCENE!, festa que resgatou a noite alternativa de Santos.

Dia: 09 de setembro

 

Amado - Faustino - Valinho | Portugal

Rodrigo Amado, tarimbado saxofonista, é linha de frente do jazz livre e da improvisação em Portugal. Junto a ele, o contrabaixista Hernâni Faustino também é figura central e pilar da cena portuguesa. João Valinho, figura incontornável na nova geração, completa o trio. Juntos, eles se desdobram em diferentes formações, como Refraction Quartet, que conta ainda com João Almeida no trompete, e a banda que acompanha o spoken word do brasileiro Rodrigo Brandão.

Dia: 10 de setembro

 

DJ Edgar Raposo | Portugal

Edgar Raposo, também conhecido como 'Mr Groovie' e responsável pelo selo Groovie Records, sediado em Lisboa, é aclamado conhecedor das raridades portuguesas e brasileiras dos anos 60/70. Criou compilações como a icônica série ‘Brazilian Nuggets’ e contribuiu para as compilações ‘Soul Braza’ e ‘Java Java – Indonesia Screaming Fuzz’. Em Portugal, lançou as icônicas composições Portuguese Nuggets e o livro Portugal Electro.

Dia: 10 de setembro

 

DJ Malfeitona | Brasil

Conhecida por seus vídeos engraçados e pelo conceito de “tropical darkzera”, a artista liga referências estéticas e culturais do rock ao que chama de “toque tropical e divertido característico de Salvador”, sua cidade natal. Em show acompanhada de duas bailarinas, seu som é “pensado para galera darkzera que entende que a vida é curta demais pra não quicar e rebolar até o chão”. É influencer, artista visual, tatuadora, mestra em comunicação, DJ, cantora e compositora. 

Dia: 12 de setembro
 

DJ Pensanuvem | Brasil

Criadora, produtora e residente de diferentes festas paulistanas, a artista apresenta uma seleção que reúne samba, forró, boogaloo, cumbia, guajira, funk, reggae e outras malemolências. Discotecando desde 2009, ganhou a noite com festas como a Take a Ride, de reggae jamaicano, criada em 2009; Macumbia, surgida em 2011, em homenagem à música latina, e, mais recentemente, a Pitangueira, realizada com as DJs Dé Schuw e Mari Boaventura.

Dia: 13 de setembro

 

Brisa Flow | Brasil

A multiartista ameríndia Brisa de la Cordillera, conhecida como Brisa Flow, apresenta seu mais recente álbum, “Janequeo”, inspirado na guerreira homônima de origem mapuche que se tornou heroína no Chile do século XVI. O repertório mistura rap com outras vertentes eletrônicas e de raízes originárias, arte construída a partir da vivência de seu corpo no mundo, a criar caminhos que se desprendem das amarras da colonialidade. Um encontro com as energias da Terra, como almeja.

Dia 14 de setembro

 

DJ Donna | Brasil

Com 22 anos de discotecagem, foi DJ do Projeto Presença Preta no Lollapalooza 2022. Idealizadora do Festival Conexões Urbanas Impressões Femininas na Cultura de Rua. Esteve presente no AME (Atlantic Music Expo) em Cabo Verde (África), em 2019, mesmo ano em que abre o show dos Racionais MC's em Brasília. Ganhadora do Prêmio WME (Womans Music Event Awards), em 2018, na categoria de Melhor DJ. Seu repertório inclui Hip Hop, Dancehall, Afro House, Afrobeat, Kuduro, MiamiBass, Bass Music, Samba Rock, Funk Soul e Jazz.

Dia: 14 de setembro

 

Looping: Bahia Overdud | Brasil

Criação de Felipe de Assis, Leonardo França e Rita Aquino, parte de uma investigação sobre repetição e acumulação, fusão e supressão: ciclos que se encerram em si mesmos, sobre si mesmos. Movimentos de tensão e distensão da cultura, cuja paisagem predominante é das festas de largo de Salvador com suas contradições. A fricção dos elementos desses arranjos coletivos é realizada através de procedimentos que organizam sonoridades, corpos e espaços. Encontro entre pensamentos sonoro e coreográfico: overdub Bahia.

Dia: 15 de setembro

 

Seletora Cecyza | Peru

Cecilia, a DJ CecYza, há 10 anos imigrante na capital paulista, apresenta uma seleção de sua coleção de discos de vinil, com seus ritmos preferidos: afrobeat, samba rock, latin jazz, rock psicodélico, guaracha, salsa, merengue e, em especial, cumbia peruana, chicha, boogaloo e afro-peruano. Presente em festas em São Paulo, Bogotá, Lima e cidades da Europa, como Madri e Amsterdã, já participou do Festival MUCHO! e, atualmente, integra os projetos “Fiebre en la Selva” e "Não Sou Daqui”.

Dia: 15 de setembro

 

DJ Chico Correa | Brasil

O artista paraibano une a compreensão dos ritmos e tradições regionais afro-brasileiras e a afinidade por batidas e texturas eletrônicas. Respeitando as células rítmicas e melodias originais, conduz sons e timbres para territórios inexplorados. Transita pelos fragmentos imaginários da tradição remixada por meio da mistura da cultura popular com os samplers e os sintetizadores. 

Dia: 16 de setembro

 

Abacaxepa | Brasil

Com uma pegada teatral, a banda valoriza a cultura brasileira e tem em seu discurso, a desconstrução da normatividade no comportamento e na estética. Tendo influências musicais que vão do sudeste ao nordeste, do urbano ao rural, do rock ao samba. De Caetano Veloso a Raul Seixas, a banda tem como referências os artistas do movimento tropicalista e artistas atuais que seguem com um trabalho sincero e presente.

Dia: 17 de setembro

 

DJ Priscilla Delgado | Brasil

Militante da cultura, produtora executiva em eventos, produtora e gestora cultural atuante no estado do Ceará, pesquisadora musical dos gêneros oriundos da América Latina, colecionadora de vinis e DJ. Responsável pelos projetos Viva La Pachanga, Castilho Delgado, She Loves e Women of Reggae.  Em oito anos como DJ aprimorou sua pesquisa em cumbia, chicha, lambada, guitarrada, carimbó, forró, bachata, merengue, dembow, salsa, calypso e reggaeton.

Dia: 17 de setembro

 

VJ Bretas | Brasil 

As noites no Ponto de Encontro contam com criações do artista visual que atualmente pesquisa as espacialidades contemporâneas e seus desdobramentos. Em seu trabalho, Guilherme Bretas usa tecnologias novas, inteligência artificial e projeções mapeadas como ferramentas para intervir em espaços urbanos e promover discussões sobre temas relacionados à política, à memória negra e ao meio ambiente.

Dias: 09, 10, 12, 13, 14, 15 e 16 de setembro

 

VJ Kelly Pires | Brasil

Artista Visual e VJ. Atualmente estuda e trabalha com arte digital, edição e animação de vídeos. Atua com artistas como Bia Ferreira e Xênia França, na festa Discopedia, além de projetar no monumento Borba Gato em uma ação de ressignificação da Prefeitura de São Paulo. Usa projeções, animações e artes plásticas para contar e expor narrativas necessárias para a população preta e periférica.
Dia: 17 de setembro

A programação completa das atividades formativas está disponível em www.sescsp.org.br/mirada

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