
GRUPO DO TRECHO LEVA AO CENTRO DE
SÃO PAULO SEU 'TEATRO DE INTERVENÇÃO'
A jovem companhia teatral apresenta no Largo de Santa Cecília a peça "Contos de Lua no Chão", criada coletivamente a partir de contos do escritor moçambicano Mia Couto. O espetáculo é aberto a interferências dos transeuntes – o público torna-se co-criador da obra.
FOTOS: YURI AMARANTE
O Grupo do Trecho em duas cenas de "Contos de Lua no Chão", peça de "teatro de intervenção" que se realiza no Largo de Santa Cecília. O espetáculo é aberto a interferências dos transeuntes – o público torna-se co-criador da obra.
Estréia no próximo sábado, 5 de Setembro, às 19 horas, "Contos de Lua no Chão", espetáculo de "teatro de intervenção" que se realiza não em uma sala convencional, mas na rua – desta vez, especificamente, no Largo de Santa Cecília, centro da cidade de São Paulo.
"Contos de Lua no Chão" coloca em cena o Grupo do Trecho, jovem companhia teatral nascida em Campinas em 2007 e integrada por Bruna Freitag, Carolina Nóbrega, Luciano Mendjes, Nádia Recioli e Tatiana Burg.
Diferentemente de peças teatrais encenadas em ruas e espaços públicos, a proposta de "teatro de intervenção" mexe com os limites entre o que é real e o que é fantasia. O resultado é, digamos, uma "confusão de recepção" pelo público, que muitas vezes não percebe tratar-se de um espetáculo teatral, não consegue exatamente definir se o que vê é realidade ou ficção.
"No 'teatro de intervenção' o espectador torna-se mais ativo e a ficção pode atravessá-lo sem necessariamente passar pelos filtros de recepção de uma obra de arte", explica Carolina Nóbrega, atriz e pesquisadora de linguagens teatrais do Grupo do Trecho.
Em síntese, o "teatro de intervenção" gera espetáculos abertos, nos quais o público torna-se co-criador da obra. É um teatro que não se produz no espaço isolado da sala de ensaio para só depois ser aberto ao público.
Análogos poéticos – "Contos de Lua no Chão" é uma criação coletiva do Grupo do Trecho, a partir da livre adaptação teatral de contos de Mia Couto [ver quadro mais abaixo]. A peça foi construída a partir de um processo de residência artística no Largo de Santa Cecília, no qual o Grupo do Trecho buscou estabelecer "análogos poéticos" entre a realidade local e os contos "As Lágrimas de Diamantinha", "O Embondeiro que Sonhava Pássaros" e "O Cego Estrelinho", do escritor moçambicano.
A pergunta “como essa história aconteceria nesse contexto?” serviu de orientação para a criação das narrativas, através da busca de sensibilização dos integrantes do grupo em relação ao espaço.
A encenação se dá em um círculo demarcado ao redor da Igreja de Santa Cecília. As histórias apresentam a trajetória patética de personagens que entram em desajuste com a realidade, procuram transformá-la e são esmagados por ela:
* uma mulher que faz um voto de fome na busca de frear o ritmo da vida e poder encontrar sentimentos sinceros, é explorada comercialmente, tendo sua imagem deturpada pela apropriação de suas palavras ("As Lágrimas de Diamantinha")
* um vendedor bizarro e andrógino de pássaros exóticos provoca a ira numa cidade pela relação duvidosa que estabelece com uma menina ( "O Embondeiro que Sonhava Pássaros")
* uma cega é guiada por uma mulher doente, que mente travestindo a realidade num lugar bom; quando ela parte, a cega se depara com a brutalidade do mundo através da visão de um homem comum ("O Cego Estrelinho")
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