19 de jun. de 2010

A Mostra "O Cinema de Québec (Canadá)" traz filmes inéditos ao Brasil

A Mostra "O Cinema de Québec (Canadá)" traz filmes inéditos ao Brasil

A Mostra O Cinema de Québec reúne 27 trabalhos inéditos no Brasil, muitos deles premiados no Canadá e internacionalmente. Trata-se da primeira retrospectiva de filmes de ficção e documentários sobre Québec exibida para o público brasileiro. Os filmes, diferentes na abordagem, nos temas e nas épocas, revelam uma Québec em transformação após um grande isolamento da cena cultural mundial.

O objetivo da Mostra é colocar em contato o público brasileiro com a realidade de Québec, suscitando uma discussão em torno de sua identidade. O evento realiza-se simultaneamente na sala de cinema da Universidade de São Paulo (CINUSP) e na Cinemateca Brasileira de São Paulo, entre os dias 24 de junho e 4 de julho, e tem o apoio do Consulado Geral do Canadá em São Paulo e do Escritório de Québec em São Paulo.

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Por Dentro da Mostra

A Revolução Tranquila

Em 1948, ao colocar em xeque valores tradicionais e o imobilismo da sociedade quebequense, um grupo de artistas assina o Manifesto Refus Global, tornando-se uma referência cultural para os movimentos artísticos e políticos que viriam eclodir a partir dos anos 1960. Nesse momento, Quebec sofre uma radical mudança sóciocultural que resultará na chamada Revolução Tranquila. Músicos, poetas, escritores, artistas, cineastas e políticos tradicionalista. Esta revolução está aqui representada em diversos filmes.

Em Le Chômeur de la mort, Benjamin Hogue e Pierre Luc Gouin traçam um perfil do controvertido e célebre poeta Claude Péloquin, que marcou a cena cultural de Québec dos anos 1960 e 1970. Realizando uma crítica autoral após 40 anos do Refus Global, a cineasta Manon Barbeau, filha de um dos signatários, realiza o filme Les Enfants du Refus Global de grande carga emocional e ousadia.

Herdeiro da geração pós-revolução tranqüila, destacamos o trabalho de André Gladu, que comparece a esta mostra com dois filmes. Em Je suis fait de musique, mostra-se insaciável em suas buscas pelas raízes da identidade de Québec, por meio das viagens musicais que nos proporciona. Já em La Conquête du grand écran, aborda a tradição do acordeão em Montréal e faz um retrato sobre a história do cinema quebequense.

Voltando aos Povos Autóctones

Paralelamente à eclosão de inúmeras produções culturais, a partir da década de 60, começam a surgir os primeiros filmes que tratam dos povos indígenas, até hoje pouco conhecidos do próprio público canadense. O cineasta Arthur Lamothe é um dos pioneiros nesse registro, produzindo uma extensa obra de mais de 100 filmes apenas sobre os Innu, povo indígena do leste do Canadá situado majoritariamente na região da chamada Côte-Nord de Québec. O público brasileiro poderá conhecer um desses filmes, On disait que c'était notre terre, além do seu primeiro documentário Les bûcherons de Manouane, que já traz sua marca, ou seja, seu interesse pelo outro, aquele que vive à margem. Nesse caso, o foco de sua preocupação é a áspera vida dos lenhadores de Manouane, na região da Haut-Saint-Maurice.

Com o intuito de introduzir a complexa realidade indígena, selecionamos filmes bem distintos em suas abordagens e estilos. A ficção Ce qu'il faut pour vivre, de Benoit Pilon, trata do difícil mas possível diálogo entre as sociedades Inuit e a quebequense-canadense dos anos 1950; e, no filme Qallunat, why white people are funny, de Mark Sandiford, feito com os Inuits, o diretor inverte os papéis de quem está atrás da câmera; são os Inuits que fazem um divertido documentário "antropológico" sobre a sua visão acerca do Homem Branco.

Com o filme Une tente sur Mars, protagonizado pelos Innu, os diretores Luc Renaud e Martin Bureau provocam uma reflexão importante e atual sobre o lugar dos povos indígenas na sociedade quebequense e, acima de tudo, o que vem ser a identidade de Québec dentro da nação canadense. Finalmente os curtas do Wapikoni Mobile, projeto coordenado pela cineasta Manon Barbeau, que permite há cinco anos que pela primeira vez jovens indígenas de diferentes nações expressem seus desejos e inquietações. O resultado é surpreendente.

Quebec contemporânea

Os jovens cineastas Anais Barbeau-Lavalette, Hugo Latulipe e Luc Bourdon nos revelam uma Quebec contemporânea, preocupada em revelar suas idiossincrasias, sua história e sua identidade. Em La mémoire des Anges, de Luc Bourdon, mergulhamos em uma Montreal urbana e cosmopolita, com base na montagem de trechos de 120 filmes produzidos nos anos 1950 e 60; o resultado é um painel imagético vigoroso e poético. Manifestes en série, realizado em 2008 por Hugo Latulipe, pode ser lido como uma reatualização do manifesto Refus Global, representado, nesta mostra, pelo episódio Decoloniser le pays, que faz uma reflexão sobre o consumo desenfreado em nossa sociedade. Inspirado na visão dos povos indígenas, o filme mostra que um extrato cada vez maior da população canadense se opõe a isso.

O filme Le Ring, de Anaïs Barbeau-Lavalette, realizado no bairro pobre de Hochelaga-Maisonneuve, insere-se dentro de uma tradição de cinema social e traça um perfil sensível de um menino oriundo de uma família de baixa renda que sonha em ser um grande boxeador. O filme aborda um viés social pouco conhecido acerca da realidade canadense.

Dedé, à travers les brumes, de Jean-Philippe Duval, é protagonizado pelo musico Dedé, que se destaca na cena musical de Québec nos anos 1980. O filme aborda uma época de grande efervescência cultural que sonha com a independência de Québec. Numa linguagem que combina documentário, ficção e arte, os filmes dirigidos por Lysanne Thibodeau, Esprits de famille e Éloge du retour, perseguem as origens do espírito de Québec dentro de uma narrativa intimista.

Québec - um olhar de fora

Para melhor compor esse mosaico quebequense, selecionamos dois filmes de dois realizadores de origem estrangeira, que adotaram o Canadá como sua moradia: Le voyage du capitaine Michaud, de Yann Langevin, numa narrativa bem humorada, nos apresenta o simpático marinheiro Michaud, originário da Gaspesie, que empreende um périplo em seu barco desde sua cidade natal, Saint-Anne-des-Monts, até o Haiti. No curta-metragem La neige cache l'ombre des figuiers, de Samer Najari, acompanhamos um dia de trabalho de seis imigrantes recém-chegados a Montréal e o impacto do primeiro frio glacial.

Cinema quebecois em curtas

Finalmente com os curta-metragens Lila, de Robin Aubert, e Killing time, de Tara Johns, trazemos dois filmes premiados que evocam o vigor do cinema de curta metragem de Québec.

Agradecemos o apoio da Sociedade dos Amigos da Cinemateca Brasileira, da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP, da empresa Rio Tinto Alcan, do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA) da Universidade de São Paulo, do Consulado Geral do Canadá em São Paulo, do Escritório de Québec em São Paulo e da Embaixada do Canadá no Brasil, sem os quais esta empreitada seria impossível.

João Claudio de Sena
Paula Morgado
Curadores da mostra

MOSTRA O CINEMA DE QUÉBEC (Canadá)
Cinemateca Brasileira
de 24 de junho a 4 de julho de 2010

Cinusp Paulo Emílio
de 29 de junho a 2 de julho de 2010

Realização: Cinemateca Brasileira e Cinusp Paulo Emílio
Curadoria: João Cláudio de Sena e Paula Morgado.
Apoio: Pró-Reitoria de Cultura e Extensão/USP, Rio Tinto Alcan e Sociedade Amigos da Cinemateca.
Apoio Cultural: Consulado Geral do Canadá em São Paulo, Embaixada do Canadá no Brasil, Escritório de Québec em São Paulo e Laboratório de Imagem e Som em Antropologia/USP.
Blog: www.cinequebec.blogspot.com

Cineastas presentes durante o evento:
Benjamin Hogue
filme presente na mostra:
Le chômeur de la mort (2009)

Lysanne Thibodeau
filme presente na mostra:
Éloge du retour (2001)
Esprits de famille (2007)

Luc Renaud
filme presente na mostra:
Une tente sur Mars (2008)

Pierre Luc Gouin
filme presente na mostra:
Le chômeur de la mort (2009)


Sobre Rio Tinto Alcan:
A Rio Tinto Alcan opera no Brasil desde 1940. Destaca-se pelo pioneirismo e inovação na produção de bauxita de alta qualidade, alumina e alumínio primário. Tem escritório central em São Paulo e participações na Mineração Rio do Norte SA - MRN, no Pará; e na refinaria do Consórcio Alumar, no Maranhão.


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