- Última noite do 6º Curta Natal lotou a Casa da Ribeira e mostrou
que público quer novidade
24/04/2007 - Tribuna do Norte
Rafael Duarte e Tádzio França - Repórter
O júri popular se comoveu com a história de uma lenda cristã do
sertão potiguar, enquanto o júri oficial preferiu uma "viagem"
experimental sobre um clássico do cinema. E todos riram de um
desenho animado tosco, com a cara da marginália natalense. Foram os
pontos altos da noite que encerrou a 6ª edição do Festival Curta
Natal, na Casa da Ribeira, sexta-feira passada. A maratona de mais
de 40 pequenos filmes celebrou, ao final, os vencedores das mostras
competitivas, e exibiu o que o Nordeste anda fazendo com câmeras e
celulares nas mãos.
Eis os nomes: na Mostra Nordeste,o júri oficial deu o 1º lugar
a "Eisenstein" (PE), de Leonardo Lacca, Raul Luna e Tião; 2º lugar
para "Instrumento detector de alguma coisa" (PB), de Otto Cabral, e
o 3º lugar a "Com quantas ave-marias se faz uma santa?" (RN), de
Albery Lúcio, Edileusa Martins, George Diniz e João Rodrigues Costa.
Já o júri popular elegeu "Com quantas aves-marias..." o melhor curta
da Mostra NE; de Vídeo Clipe deu "Pram!", dos Bonnies, por Arthur
Ricardo e Olavo Luiz, e do Curta Celular, o vencedor foi "3, 2, 1",
de Bruno Sarmento, Carolina Maria, Pedro Fiuza e Vitor Bezerra.
A última noite do festival lotou o teatro da Casa da Ribeira, e
ainda manteve agitada a área externa na rua Frei Miguelinho, onde um
telão exibia os filmes simultaneamente. Boa parte das produções foi
marcada por um presente senso de humor. A surpresa cruel e
travestida ao final de "Je n'aime pas les esguete", curta cearense
que abriu a sexta-feira, provocou risadas. Já o premiado "Com
quantas aves-marias..." costurou depoimentos do povo mais antigo de
Florânia para contar a história da menina santa cultuada no
município potiguar. A pouca diversidade das entrevistas, em 20
minutos, deixou a curta meio enfadonho, embora os bons depoimentos
tenham ajudado a contar a história.
O natalense "Só o amor constrói", com o seu `super-homem'
apaixonado, fez todos rirem em pouco mais de um minuto. O
cearense "Cine Zé Sozinho" também fez rir mas, acima de tudo,
emocionou. É um reconhecimento em vida ao pernambucano José
Raimundo, que há décadas circula pelo interior nordestino projetando
filmes para comunidades que nunca viram um cinema na vida. Amante
autodidata do cinema, `Seu Zé' mostrou o momento em que, para
tornar "A Paixão de Cristo", mais agitada, editou o filme com cenas
do faroeste "Django". A platéia desabou no riso.
Os momentos mais experimentais, como de praxe, intrigaram uns,
chatearam outros. O paraibano "Estibordo", minimalista, abstrato e
robótico, esfriou o público; a destacar, a boa trilha
ambient/eletrônica; já o vencedor "Eisenstein" abusou das edições,
planos, efeitos, montagens e cortes de tempo, a ponto do roteiro —
em tese, uma história de amor entre um rapaz e a neta do cineasta
russo Sergei Eisenstein — praticamente sumir durante os 20 minutos
do curta. Mostrou muito, disse pouco.
O desenho animado "Galera greiosa", assinado por Arthur Ricardo e
Olavo Luiz, fez a alegria da platéia, dentro e fora da Casa.
Animação tosca, feita em `paint brush', trouxe um pouco da ironia e
sujeira de desenhos como o americano South Park para o cotidiano
natalense. Seus personagens marginais carregam na "linguagem de rua"
local, e vivem situações típicas, cuja maior graça estão na
identificação que causam na platéia. Uma boa piada interna que
merecia no mínino uma mensão honrosa do júri.
"Vixe, agora já era!"
Durante a exibição dos curtas da mostra Nordeste, a produtora
executiva do documentário "Com quantas Ave Marias se faz uma
Santa?", Ana Lúcia Gomes, não escondeu de ninguém o que achava dos
concorrentes de outros estados. "O pessoal da Paraíba e do Ceará
ainda estão na frente da gente na área do audiovisual porque recebem
mais incentivo, mais apoio. Tanto que quando começou a passar os
filmes deles disse `vixi, agora já era!´. Mas acabou que conseguimos
ganhar como melhor curta potiguar e ficamos em terceiro no júri
oficial. Estamos muito felizes e orgulhosos porque foi nosso
primeiro prêmio, e logo no Rio Grande do Norte", disse a produtora
do documentário dirigido pelo jornalista Albery Lúcio e produzido
pela equipe do grupo "Caminhos, Comunicação & Cultura" formado por
jornalistas e estudantes de comunicação social da UFRN.
Embora empolgada com o resultado, Ana Lúcia criticou a formatação do
festival Curta Natal. Segundo ela, a competição de vídeos num bloco
só prejudica os concorrentes. "Não é uma opinião só minha, mas de
todo mundo. Misturar documentário, ficção e vídeos experimentais
numa categoria só é ruim, fica estranho. Acho que melhor seria se
fosse separado por categoria e todas concorressem em separado",
afirmou.
Diretor do melhor videoclipe do festival, o baixista do Bonnies
Olavo Luiz disse que não imagina conquistar o prêmio, mas admitiu
que "Pram!" se destacou dos demais trabalhos exibidos na terça-feira
passada por fugir do lugar-comum. Quase artesanal, a animação feita
para música instrumental da banda gravada no EP Bonnies, lançado em
2005, foi feita toda no programa de computador paintbrush e gravada
no Windows Movie Player. "Eu já tinha uns desenhos, o Arthur
(vocalista e outro diretor da animação) também tinha uns desenhos
guardados e decidimos fazer o vídeo. Temos outros, estamos sempre
fazendo animações no computador", disse Olavo que vai embolsar,
junto com Arthur, R$ 500 de prêmio.
Vencedores da 6ª edição do Curta Natal levaram R$ 5mil de prêmios
1º lugar "Eisenstein" (PE)
2º lugar "Instrumento detector de alguma coisa" (PB)
3º lugar "Com quantas ave-marias se faz uma santa?" (RN)
Juri popular
Curta Potiguar
"Com quantas aves-marias..."
Vídeo Clipe
"Pram!", (Os Bonnies)
Curta Celular
"3, 2, 1"
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